segunda-feira, 31 de março de 2014

Nônô - Uma pomba que queria viajar

NÔNÔ - UMA POMBA QUE QUERIA VIAJAR Nônô tentava sempre voar um pouco mais longe mas, mal batia as asas, ouvia logo a voz da mãe: - Crô crô, onde vais Nônô? Tens aqui comida. Nônô não queria comer. O que ela queria era voar, voar para lá dos montes, para lá das nuvens. Todos os dias subia à torre mais alta da igreja e ficava a olhar e a imaginar como seria o mundo do outro lado do rio. Um dia, amanheceu com a chuva e o vento a fustigarem os ramos das árvores. Em cima dos telhados, os pombos encostavam-se uns aos outros para se protegerem daquele temporal. As águas do rio corriam, galgando as margens, e Nôno pensou: “Ora aqui está um belo dia para eu explorar o mundo”. De mansinho, foi-se afastando e quando chegou à beira do telhado abriu as asas e deixou-se levar. Que bom era voar assim ao sabor do vento! Que bom sentir a chuva a bater nas penas! Que bom poder ver o mundo! Nônô voou, voou e, quando se sentiu cansada, começou a descer e pousou na outra margem do rio. Ouviu uma voz doce: - Cuidado, vê lá onde pousas essas patas! - disse a Estrela que descansava sobre uma rocha. Nônô abriu os olhos de espanto. Ela só conhecia as estrelas do céu. Nunca tinha visto uma estrela da água. - Que linda que tu és! – disse Nônô. - Obrigada. – respondeu a Estrela, um pouco envergonhada. - Que andas aqui a fazer sozinha? – ouviu-se uma voz grossa a perguntar. Nônô virou-se. Era uma Lontra, com um enorme rabo. - Eu, eu... eu ando a descobrir o mundo – respondeu Nônô. - A descobrir o mundo?! – surpreendeu-se uma Borboleta que por ali esvoaçava. E desta vez é que os olhos de Nônô se abriram mesmo. Tantas cores tinha aquela Borboleta! - As pombas não descobrem mundos – disse o Pato que acabara de pousar - isso é para as aves migratórias como eu. Tu nasceste pomba e, se calhar, nem o teu mundo conheces. – acrescentou ele altivo. Nônô baixou os olhos. Ela bem sabia que tinha nascido pomba, que naquele momento devia estar com as pombas iguais a ela, em cima do telhado, ou no meio da praça, mas ela queria conhecer o mundo. O Pato tinha dito uma coisa que Nônô nunca tinha pensado: ela não conhecia o mundo dela. - Oh Pato, não precisas de falar assim! - disse a Rã que tinha percebido a tristeza de Nônô. - Não fiques triste, Pombinha – acrescentou ela – há muitas maneiras de conheceres o mundo. - Não sei se há… – respondeu Nônô confusa. O Cágado, que se juntara ao grupo, olhou para Nônô e disse-lhe: - Escuta, minha filha, já ando por cá há muito tempo e posso dizer-te que, se queres mesmo conhecer o mundo, nunca te podes esquecer de: ver, escutar e sentir. Nônô ficou pensativa. Na sua ânsia de conhecer o mundo tinha-se esquecido de ver, escutar e sentir o que estava à sua volta. Olhou os novos amigos e preparou-se para voltar para casa. Nônô sabia que, mesmo tendo nascido pomba, iria fazer muitas e grandes viagens, mas agora precisava de regressar, para poder partir de novo, depois de ter aprendido a ver, escutar e sentir. Só assim poderia conhecer o mundo.