domingo, 18 de maio de 2014

As Bibliotecas da minha vida

A partir do momento em que aprendi a ler tornei-me uma das mais assíduas frequentadoras de Bibliotecas da minha pequena terra, uma vila alentejana.
Naqueles tempos as escolas primárias não eram mistas, havia a escola das meninas e a escola dos meninos. Na escola das meninas, não havia Biblioteca. Na outra havia uma, logo na entrada, num espaço onde não se avistavam os rapazes. Quando digo frequentava refiro-me a ir lá buscar livros. Não havia mesas nem cadeiras, apenas a secretária do professor e um pequeno armário, com portas de vidro fechadas com uma chave enorme. O resto era espaço vazio.
Não tenho memória de como fui lá parar, mas recordo o professor, que muito mais tarde percebi que era escritor, e que quando eu chegava me oferecia um enorme sorriso, se levantava e ia ao armário buscar um livro. Era ele que os escolhia, como se adivinhasse o que eu queria naquele momento. Acertava sempre.
Já lia, porque tinha, toda a coleção dos Cinco, dos Sete, das Gémeas, do Castelo das Quatro Torres… penso que tudo o que havia em Portugal da Enid Blyton e que viria a influenciar a minha escrita muitos anos mais tarde.
Com o professor da Biblioteca descobri a Condessa de Segur, Charles Dickens, Mark Twain e muitos outros clássicos da literatura infantil.
Há um momento nesta pequena Biblioteca Escolar que recordo para sempre: o 25 de abril de 1974. Chegada à escola nessa manhã, a professora disse que não havia aulas e eu fiquei super feliz porque assim podia ir visitar a Biblioteca dos Rapazes. Quando lá cheguei o professor disse-me: “Hoje aconteceu uma coisa muito importante. Quero que vás para casa e que fiques lá até os teus pais chegarem”. Fiquei tão triste que ele, talvez pensando que eu não iria acatar a ordem, abriu o armário, colocou-me um livro nas mãos dizendo – “Agora faz o que te disse”. E eu saí de lá, já novamente feliz, com um exemplar da “Aventura nas Berlengas” – a primeira peça de teatro que li. Assim, enquanto os portugueses lutavam pela democracia eu estava quietinha no sofá a ler um belíssimo livro J.
Nesta fase da minha infância frequentava também a Biblioteca Itinerante da minha terra e, no verão, a da terra da minha avó.
Adorava aquela carrinha e aí havia maior liberdade. Entrava para lá e os senhores deixavam-me tirar e pôr os livros nas estantes. Não me ajudavam a escolher nada, mas deixavam-me descobrir e aquelas carrinhas pareciam-me Bibliotecas gigantescas. Foi aqui que descobri a coleção do Pequenu, livros que para mim eram enormes e pesados, as Viagens de Gulliver e muitas outras maravilhas.
Durante a minha permanência no 2º ciclo não havia Biblioteca na escola nem na vila, apenas a Itinerante. Nas escolas do 3º ciclo e Liceu havia Bibliotecas que eu só frequentava quando necessitava mesmo de alguma coisa para os trabalhos escolares. O acesso ao catálogo era um processo complicado e moroso. Estava dentro de uma gaveta pesadíssima e consistia num conjunto de cartões retangulares escritos à mão e organizados por autores. Isso implicava que nós soubéssemos que autor queríamos ler e, como dos que eu conhecia já havia lido tudo (hábito que me ficou para a vida porque ainda hoje leio tudo o que um autor de quem gosto publica), não encontrava nada. Não me deixavam andar a “passear” pelo meio das estantes e ninguém me ajudava a encontrar um livro que me pudesse agradar. Não se podia falar, mesmo que fosse baixinho, o espaço estava sempre vazio e as Bibliotecárias sempre com cara de me quererem ver pelas costas. Mesmo assim, ainda fiz várias tentativas e mexia no catálogo, mas passados poucos minutos diziam-me que se eu não sabia o que queria era melhor sair dali.
Nesta época havia já uma Biblioteca Municipal organizada da mesma forma que a escolar, mas onde eu dispunha de maior liberdade – deixavam-me aproximar das estantes e ler os títulos dos livros. Foi assim que descobri Balzac, Vitor Hugo, Simone de Beauvoir, Francesco Alberoni, Erico Veríssimo, Vergílio Ferreira, Júlio Dinis, José Mauro de Vasconcelos, Ernest Hemingway, John Steinbek…
Para além desta Biblioteca havia mais duas: uma na sede do Partido Comunista e outra na sede do Partido Socialista. Aqui os livros estavam dentro de três ou quatro armários (que não estavam fechados à chave), aparentemente sem qualquer espécie de ordem ou organização, mas havia sempre alguém disponível para comentar um livro comigo, para me perguntar se eu já conhecia este ou aquele, para me incentivar a ler.
Foi assim que descobri, principalmente na Biblioteca do Partido Comunista, Vladimir Nabokov, Léon Tolstoy, Manuel Alegre, Soeiro Pereira Gomes, Alves Redol, Raúl Brandão, Fernando Namora…
Continuo a ser uma frequentadora assídua das Bibliotecas. Quando mudo de localidade, o que acontece com alguma frequência, uma das primeiras coisas que faço é inscrever-me na Biblioteca Municipal.
Sem as Bibliotecas não seria a pessoa que hoje sou. J

sábado, 3 de maio de 2014

O Grufalão na Feira do Livro de Vila Nova de Cerveira


 
 
O que diz o Blog da Biblioteca Municipal de Vila Nova de Cerveira:
 
 
"Paralelamente, na sala infanto-juvenil, dirigido ao público familiar, a escritora Ana Mafalda Damião apresentou o livro: "O Grufalão", uma divertida história de um monstro muito feio, aassustador, mas imaginário! escrita por Axel Scheffler e Julia Donaldson. Uma vez mais, estamos gratos à escritora e mediadora da leitura Ana Mafalda Damião pela excelente colaboração que sempre nos tem dedicado! "

quinta-feira, 1 de maio de 2014

O Anel Mágico

Há muitos, muitos anos, numa casa muito pequenina, vivia um alfaiate que tinha três filhos.
Os dois filhos mais velhos trabalhavam do nascer ao pôr-do-sol, a ajudar o pai na confeção dos fatos.
O mais novo, como era muito inteligente, andava na escola e tinha como professor o padrinho que, era o maior Mestre das Artes Mágicas – era um feiticeiro muito mau.
Os anos foram passando e, um dia, os filhos mais velhos disseram ao pai:
- Querido pai, nós gostamos muito de si mas, estamos fartos de trabalhar para ajudar o nosso irmão a estudar. A partir de agora ele terá que trabalhar como nós, usando aquilo que aprendeu.
O pai conversou com o mais novo e contou-lhe o que os irmãos tinham dito.
O rapaz logo se pôs de acordo, dizendo:
- Amanhã tornar-me-ei num cão de caça. O pai virá comigo às lebres e terá o dia ganho. Mas, para isso, preciso que me arranje um açaimo.
O pai assim fez e colocando-lhe o açaimo, depressa o rapaz se transformou num lindo cão de caça. No final do dia tinham um saco cheio de lebres.
Foram a casa de um comerciante muito rico para as vender, mas o comerciante ao ver tantas lebres insistiu em comprar o cão. O pai aceitou a oferta e entregou o cão.
Dias mais tarde o comerciante foi à caça. O cão, ao ver uma lebre, correu atrás dela e ficou preso nuns arbustos.
Vendo que estava sozinho, tirou o açaimo e de novo se transformou no rapaz.
O comerciante, intrigado com a demora do cão, foi procurá-lo.
Encontrou o rapaz e perguntou-lhe:
- Não viste por aqui um cão de caça?
- Ver não vi, mas quando passei naqueles arbustos ouvi um barulho. Se calhar era o cão que o senhor procura! Mas olhe, não se aproxime daquele lugar porque está lá um buraco tão fundo que quem lá cai nunca mais volta.
O comerciante, assustado, foi-se embora lamentando o dinheiro e o cão que tinha perdido.
O rapaz voltou para casa e disse ao pai:
- Arranja-me um freio para que eu me transforme num cavalo.
O pai assim fez e, ao colocar-lhe o freio, logo ele se transformou num lindo cavalo.
Contente e vaidoso, lá foi o pai passear montado no cavalo.
Passou à porta do Mestre das Artes Mágicas que, mal olhou para o cavalo, logo percebeu que era o seu afilhado e aluno que ali ia transformado.
Furioso por ver que o afilhado o ultrapassava na magia disse ao pai:
- Dá-me o teu cavalo que em troca eu dou-te um saco de ouro.
O pai fez logo o negócio e entregou o cavalo ao Mestre.
Ora acontece que o Mestre tinha três filhas muito curiosas e, antes de prender o cavalo na estrebaria disse-lhes:
- Nenhuma de vós pode entrar na estrebaria, enquanto este cavalo lá estiver.
As filhas concordaram mas, assim que o pai se afastou, correram a ver o cavalo.
Surpreendidas, viram que toda a comida estava intacta, ou seja o cavalo não comia.
- Coitadinho, – disse a mais velha – vamos tirar-lhe o freio a ver se ele come.
Assim que lhe tiraram o freio o cavalo transformou-se no rapaz, que ao vê-las gritou:
- Ai de mim pássaro. - e logo se transformou num melro que fugiu pela janela.
Voava o melro sobre o jardim da casa quando o Mestre o viu e depressa gritou:
- “Ai de mim águia”.
O Mestre, agora transformado em águia, voou em perseguição do melro que quando percebeu que ia ser apanhado gritou:
- “Ai de mim anel”.
Neste preciso momento, o melro voava sobre o mar e ao transformar-se em anel caiu direitinho na boca de um carapau, que acabava de ser apanhado nas redes de um pescador.
O pescador quando viu um carapau tão grande achou por bem ir oferecê-lo ao palácio, para a ceia real.
Quando o cozinheiro abriu a barriga do carapau, a Princesa viu o anel a brilhar e quis ficar com ele.
A partir deste dia, foi este o anel preferido da Princesa.
À noite, quando se ia deitar, tirava o anel e colocava-o numa mesa e ele… transformava-se no rapaz que tentava conversar com a Princesa mas esta, aterrorizada, gritava tanto que o rei corria esbaforido para o seu quarto. Quando lá chegava já o rapaz se tinha transformado numa formiga que estava escondida debaixo da cama.
Rei e Princesa ficavam sem perceber o que tinha acontecido.
Durante três noites se repetiu esta cena e na quarta noite o rapaz conseguiu dizer à Princesa:
- Princesa, Princesa não grites. Eu sou o rapaz do anel mágico e devo informar-te que o Rei, teu pai, está muito doente. A única pessoa que é capaz de o curar é o Mestre das Artes Mágicas. Quando o Mestre aqui chegar vai pedir-te como pagamento o anel mas tu, por favor, não lho dês. Atira-o ao chão.
Tal como o rapaz tinha dito, o Mestre foi ao palácio, curou o rei e exigiu como pagamento o anel.
A princesa recusou-se a dar-lho e como o feiticeiro insistia ela atirou-o ao chão.
Assim que o anel tocou no chão ouviu-se um grito:
- Ai de mim arroz.
O Mestre, ao ver o arroz espalhado no chão, transformou-se numa galinha para o poder comer, mas o arroz transformou-se em raposa e comeu a galinha.
Comido o Mestre, a raposa transformou-se no rapaz.
O rei, grato pela cura, pediu-lhe que casasse com a Princesa.
Ele, muito contente, aceitou logo, mas com uma condição: que o pai e os irmãos viessem morar para o palácio.
O rapaz e a Princesa casaram e foram felizes para sempre e os seus irmãos foram nomeados cavaleiros do reino.

Adaptação de uma história tradicional

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Ovelharoco

Ovelharoco, o reino das ovelhas, é um lugar muito grande e bonito. Por todo o lado se encontram extensos campos que, no Inverno, são verdes e, na Primavera, se vestem das cores do arco-íris. Aqui, não faltam pastagens e grutas nas rochas, que servem para abrigar os habitantes nas noites frias.
Já ninguém se lembra de onde veio, ou como chegou, o rebanho azul ao Ovelharoco, mas todos sabem (porque está escrito no Livro do Reino ), que o rebanho amarelo chegou há 300 séculos.
No Livro do Reino, também está escrito que, quando o rebanho amarelo chegou, foi muito bem recebido.
É que, no princípio dos tempos, o Ovelharoco tinha muito poucas ovelhas e carneiros. Por isso, o rebanho azul ficou muito contente quando o rebanho amarelo chegou e se instalou.
O problema é que, passado algum tempo, percebeu-se que o rebanho amarelo era muito diferente do rebanho azul: não gostava de estar sempre no mesmo lugar, não usava as mesmas grutas mais do que uma estação e, ainda por cima, quando tinham bebés eram logo 7 ou 8 de uma vez.
E tanto o rebanho amarelo andou pelo Ovelharoco, tantos bebés nasceram que um dia, o Carneiro Chefe azul olhou à sua volta e só viu amarelo.
Amarelo da cor do Sol quando nasce, da cor do trigo quando está pronto para colher, da cor do milho que os cordeiros tanto gostam.
Perante esta visão, o Carneiro Chefe Azul arregalou os olhos e carneirou:
- Mau, mau, se não temos cuidado, qualquer dia este rebanho amarelo andante fica-nos com a terra e depois não há pastos para nós.
- Eles não param de nascer – queixou-se uma ovelha azul. Não pensam no futuro, é só ter filhos, filhos, filhos.
- E ainda por cima, andam só de um lado para o outro. Não têm casa, não tomam banho, não vão às reuniões ovelhadas. – acrescentou outra ovelha azul, que não gostava nada das amarelas.
- E que vamos fazer? - perguntou o cordeiro azul comilão, que já estava a imaginar que o milho não ia chegar para ele.
- Vamos expulsá-las – respondeu o Carneiro Chefe Azul – vamos expulsá-las e é já.
- Espera lá amigo! – pediu o Carneiro Velho. Não te esqueças que os amarelos já cá estão há 300 séculos e que foram muito bem recebidos. Têm tanto direito à terra como nós.
Gerou-se um enorme burburinho. Uns concordavam com o Carneiro Chefe Azul, outros, mais tolerantes, pensavam como o Carneiro Velho mas, por maioria, decidiu-se que o rebanho amarelo teria de abandonar Ovelharoco até ao final da semana.
Quando o rebanho amarelo teve conhecimento desta decisão ficou furioso.
A Ovelha Chefe Amarela gritava:
- Era o que mais faltava, abandonar a nossa terra! Quem pensam esses azuis que são para nos mandarem embora?! Já cá estamos há 300 séculos, a terra também nos pertence.

No Ovelharoco instalou-se uma guerra. Os exércitos azuis lutavam contra os exércitos amarelos e muitos carneiros, ovelhas e cordeiros, dos dois rebanhos, perdiam a vida neste confronto.
Dias depois, O Carneiro Chefe Azul e a Ovelha Chefe Amarela olharam para os seus rebanhos e perceberam que já nem metade da população tinham.
O Carneiro Velho exigiu um período de tréguas e uma Assembleia, para se decidir o futuro dos dois rebanhos.
Nessa Assembleia, tanto azuis como amarelos perceberam que tinham cometido um grande erro, que afinal Ovelharoco era um lugar muito grande e nele cabiam muitos rebanhos.
Nessa Assembleia, os amarelos e os azuis perceberam que não faz mal serem diferentes, que cada grupo tem os seus hábitos e costumes e que, se o rebanho amarelo quiser continuar a andar de um lado para o outro está no direito dele.
Os dois grupos assinaram uma Carta de Paz, onde se comprometeram a respeitarem-se uns aos outros e a nunca mais fazer a guerra.
Hoje, no Ovelharoco, azuis e amarelos convivem pacificamente. Pelos campos, da cor do arco-íris, encontramos cordeiros verdes que brincam, contentes, com cordeiros amarelos e azuis.

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Lenda da Rosa de Turaida - Letónia

Há muitos séculos, após uma violenta batalha, foi encontrada entre os sobreviventes uma menina que foi levada para o Castelo de Turaida (Jardim de Deus), e baptizada com o nome de Maija.
Maija cresceu no castelo e tornou-se a jovem mais bonita daquela região. De tão linda que era, todos a tratavam por Rosa de Turaida.
De todos os lugares vinham cavaleiros tentar conquistá-la mas, ela amava Viktors, um jardineiro do Castelo de Sigulda.
Para esconder este amor, encontravam-se a meio caminho entre os dois castelos, na Gruta de Gutmanis.
Um dia, chegou a Turaida um cavaleiro polaco que se perdeu de amores pela jovem.

Não sendo correspondido, o cavaleiro começou a segui-la e descobriu que ela amava outro jovem.
Tentando enganá-la escreveu uma carta em nome de Viktors, a pedir que nesse dia se encontrassem mais cedo.
Maija, ao ler a carta, dirigiu-se à Gruta de Gutmanis, mas quando lá chegou, uma desagradável surpresa a esperava: o cavaleiro polaco pronto para a raptar.
Maija tentou fugir, mas o cavaleiro era mais rápido e depressa a apanhou. Então a jovem propôs-lhe que ele a deixasse partir em paz e em troca ela oferecer-lhe-ia um lenço mágico que o protegeria de todos os inimigos.
Para que o cavaleiro não duvidasse dos poderes do lenço, Maija colocou-o em volta do pescoço e pediu-lhe que a tentasse matar.
O cavaleiro assim fez e Maija morreu.
Quando, nesse dia, Viktors entrou na gruta encontrou a sua amada morta e foi acusado do crime.
Um amigo do cavaleiro polaco, compadeceu-se do seu desgosto e contou a verdade.
Viktors sepultou Maija junto à igreja e por cima do seu túmulo semeou uma tília.
A partir desse dia nunca mais foi visto.

 
 
 
 

domingo, 6 de abril de 2014

Lenda do Didgeridoo - Austrália


Há muito, muito tempo, quando as pessoas ainda não tinham casas, andavam sempre a viajar de um lado para o outro.

Quando acabavam as plantas de que elas precisavam para se alimentar, iam embora para outro sítio. Iam sempre atrás dos animais porque também precisavam deles para comer e para se vestirem.

Quando estava muito frio procuravam grutas para se abrigarem e faziam fogueiras.

À noite, as pessoas tinham um bocadinho de medo dos animais ferozes porque estava sempre muito, muito escuro. Então, elas juntavam-se à volta da fogueira e ficavam a conversar e a contar histórias.

Uma noite, um menino que se chamava Burbuk Boon viu que de um dos troncos da fogueira estavam a sair uns bichinhos muito pequeninos: eram térmitas.

Com medo que as térmitas morressem queimadas, Burbuk Boon tirou o tronco da fogueira e viu que ele era oco. Então, levantou-o e soprou para que elas pudessem voar. E à medida que o menino soprava, o som era cada vez mais bonito e as térmitas voavam, voavam cada vez mais alto.

Quando as térmitas chegaram ao céu transformaram-se em estrelas e a partir daquela altura nunca mais houve noite escuras e as pessoas nunca mais tiveram medo. E ficaram tão contentes que, com aquele tronco fizeram o primeiro instrumento musical: o Didgeridoo.

 

 

 

A Cotovia Via... Via... Por que migram as pessoas?


quarta-feira, 2 de abril de 2014

Dia do livro infantil - comemora-o com o Dragão Encantado

O DRAGÃO ENCANTADO

Num reino muito distante, vivia um Rei que tinha um grande desgosto por não ter filhos.
Um dia, andava a rei o caçar nos seus bosques, quando viu uma serpente com os filhos à volta. O rei parou e ficou a ver como a serpente brincava e acarinhava os bebés.
Grossas lágrimas correram pelas suas faces e num sussurro o disse:
- Até uma serpente tem filhos. Só eu não consigo tê-los. Se ao menos tivesse uma serpente para amar!
O Rei continuou a sua caçada e não nunca mais se lembrou deste encontro.
Alguns meses mais tarde, a rainha sua esposa ficou grávida. Enfeitou-se o Palácio, chegaram músicos e malabaristas para receber o tão desejado Príncipe, mas qual não foi o espanto do rei quando viu que afinal o bebé não era um príncipe mas sim uma pequena serpente.
Lembrou-se então o rei do encontro que tinha tido no bosque e das palavras que havia proferido. O seu coração era tão grande que decidiu que amaria aquele animal como se de um príncipe se tratasse.
Quem não ficou nada contente foram os nobres da corte. Todos os dias diziam ao Rei:
- Mande matar o bicho, Senhor, que a crescer desta maneira vai tornar-se um grande dragão e quando já não tiver leite quererá comer as meninas do reino como qualquer dragão que se preze.
Mas o rei fazia de conta que não ouvia e a serpente cresceu, cresceu e num gigantesco dragão se transformou.
Uma noite, guinchou tanto, lançou tantas labaredas que os nobres da corte voltaram a falar com o Rei:
- Senhor nosso Rei, mande matar o bicho que a fome já aperta e logo, logo, vai querer comer meninas.
O rei, só para ver o que eles diziam respondeu-lhes:
- Tragam então as vossas filhas para que ele se alimente, a primeira a ser comida será a do primeiro nobre que falou.
Os nobres arregalaram os olhos de espanto e de medo e cochicharam entre si, dizendo depois ao Rei.
- Com a Vossa permissão, Senhor nosso Rei, não concordamos com essa decisão. Lembre-se o Senhor que, assim que acabarem as nossas filhas, esse monstro vai querer comer as meninas do povo e o povo revoltar-se-á. E lembre-se Vossa Majestade que o povo o pode destronar. Assim, o melhor será irmos roubar as meninas ao reino vizinho.
Com o coração apertado, o Rei afastou-se sem saber o que responder.
Nessa noite, teve um sonho: uma linda fada dizia-lhe:
-
Deixai que os nobres cavaleiros roubem as meninas do reino vizinho. Prometo-vos que todas elas serão devolvidas aos pais inteirinhas. Apenas uma ficará e dessa cuidarei eu.
Quando acordou de manhã, o rei, com o coração cheio de esperança pelas palavras ouvidas, mandou que se fosse ao reino vizinho buscar as meninas.
Ora acontece que nesse reino vivia um pobre homem que tinha duas filhas. A mais velha era linda e bondosa e filha do seu primeiro casamento. A mais nova era muito má e vaidosa.
A mulher deste homem, só tratava bem a sua filha, a quem mimava em demasia. À enteada dava maus tratos e obrigava-a a guardar o gado quer fizesse sol ou chuva.
Foi num destes dias, em que a menina guardava o gado debaixo de um forte temporal, que uma fada lhe apareceu dizendo-lhe:
-
És uma boa menina e eu sou a tua fada madrinha. Se seguires as indicações que te vou dar libertar-te-ás desta vida que levas e serás coroada Princesa.
- Princesa, eu?! – perguntou a menina a rir.
A fada fez aparecer um lindo vestido de seda branca, bordado a ouro e disse-lhe:
- Guarda este vestido sem que ninguém o veja. Só o poderás vestir no dia do teu casamento.
A menina pegou no vestido e escondeu-o por baixo da sua camisa velha e larga.
Nesse momento, a fada desapareceu e apareceram os cavaleiros do rei com uma fila de meninas presas por uma corda.
Rapidamente ela deitou as mãos à terra e apanhando um bocado de lama esfregou a cara e os braços, na tentativa de que não a levassem por lhes parecer muito feia.
Mas os cavaleiros pegaram nela e prenderam-na junto com as outras.
Chegaram ao Palácio ao cair da tarde. Os guinchos do dragão ecoavam pelos corredores e os cavaleiros decidiram escolher a mais feia das meninas para lhe oferecer.
Como a menina tinha a cara coberta de lama, os cavaleiros disseram a gozar:
- A tua hora chegou, mas não te preocupes que nós levamos-te ao Príncipe para que ele case contigo.
Ao ouvir estas palavras a menina vestiu o vestido que a fada lhe dera e ficou tão bonita que os cavaleiros correram dali a pensar que era uma aparição.

Então, sem precisar que lhe indicassem o caminho, a menina dirigiu-se para a sala onde o dragão continuava a guinchar e a lançar labaredas e olhando muito séria para ele gritou-lhe:
- Tu, que és filho de um rei, devias envergonhar-te de quereres comer meninas. Se algo de humano existe em ti, ordeno-te que te apresentes já tal e qual és.
Palavras não eram ditas e já o gigantesco dragão se transformara num jovem e belo Príncipe.
Ao seu lado apareceu a fada que os levou à presença do rei e lhe disse:
-
Vossa Majestade, aqui lhe trago o vosso filho e a Princesa que o libertou do encantamento. Casai-os e mandai que esta história se espalhe pelo mundo para que todos saibam que mesmo escondida por baixo da pele de um monstro se pode encontrar uma boa alma.
O Rei ficou tão feliz que de novo mandou enfeitar o Palácio, chegaram músicos e malabaristas, o Príncipe e a Princesa casaram e viveram felizes para sempre.

Adaptação de uma história tradicional


Mapas do Reino do Dragão Encantado - pelos alunos do Torrão do Lameiro

http://pt.calameo.com/books/000380376f0239ce1da56

Personagens do Reino do Dragão Encantado - pelos alunos do Torrão do ~Lameiro

http://pt.calameo.com/read/000380376ef3df1743fee

segunda-feira, 31 de março de 2014

Nônô - Uma pomba que queria viajar

NÔNÔ - UMA POMBA QUE QUERIA VIAJAR Nônô tentava sempre voar um pouco mais longe mas, mal batia as asas, ouvia logo a voz da mãe: - Crô crô, onde vais Nônô? Tens aqui comida. Nônô não queria comer. O que ela queria era voar, voar para lá dos montes, para lá das nuvens. Todos os dias subia à torre mais alta da igreja e ficava a olhar e a imaginar como seria o mundo do outro lado do rio. Um dia, amanheceu com a chuva e o vento a fustigarem os ramos das árvores. Em cima dos telhados, os pombos encostavam-se uns aos outros para se protegerem daquele temporal. As águas do rio corriam, galgando as margens, e Nôno pensou: “Ora aqui está um belo dia para eu explorar o mundo”. De mansinho, foi-se afastando e quando chegou à beira do telhado abriu as asas e deixou-se levar. Que bom era voar assim ao sabor do vento! Que bom sentir a chuva a bater nas penas! Que bom poder ver o mundo! Nônô voou, voou e, quando se sentiu cansada, começou a descer e pousou na outra margem do rio. Ouviu uma voz doce: - Cuidado, vê lá onde pousas essas patas! - disse a Estrela que descansava sobre uma rocha. Nônô abriu os olhos de espanto. Ela só conhecia as estrelas do céu. Nunca tinha visto uma estrela da água. - Que linda que tu és! – disse Nônô. - Obrigada. – respondeu a Estrela, um pouco envergonhada. - Que andas aqui a fazer sozinha? – ouviu-se uma voz grossa a perguntar. Nônô virou-se. Era uma Lontra, com um enorme rabo. - Eu, eu... eu ando a descobrir o mundo – respondeu Nônô. - A descobrir o mundo?! – surpreendeu-se uma Borboleta que por ali esvoaçava. E desta vez é que os olhos de Nônô se abriram mesmo. Tantas cores tinha aquela Borboleta! - As pombas não descobrem mundos – disse o Pato que acabara de pousar - isso é para as aves migratórias como eu. Tu nasceste pomba e, se calhar, nem o teu mundo conheces. – acrescentou ele altivo. Nônô baixou os olhos. Ela bem sabia que tinha nascido pomba, que naquele momento devia estar com as pombas iguais a ela, em cima do telhado, ou no meio da praça, mas ela queria conhecer o mundo. O Pato tinha dito uma coisa que Nônô nunca tinha pensado: ela não conhecia o mundo dela. - Oh Pato, não precisas de falar assim! - disse a Rã que tinha percebido a tristeza de Nônô. - Não fiques triste, Pombinha – acrescentou ela – há muitas maneiras de conheceres o mundo. - Não sei se há… – respondeu Nônô confusa. O Cágado, que se juntara ao grupo, olhou para Nônô e disse-lhe: - Escuta, minha filha, já ando por cá há muito tempo e posso dizer-te que, se queres mesmo conhecer o mundo, nunca te podes esquecer de: ver, escutar e sentir. Nônô ficou pensativa. Na sua ânsia de conhecer o mundo tinha-se esquecido de ver, escutar e sentir o que estava à sua volta. Olhou os novos amigos e preparou-se para voltar para casa. Nônô sabia que, mesmo tendo nascido pomba, iria fazer muitas e grandes viagens, mas agora precisava de regressar, para poder partir de novo, depois de ter aprendido a ver, escutar e sentir. Só assim poderia conhecer o mundo.