As micronarrativas são um género relativamente novo.
Surgiram na década de 60, do século XX, e tiveram em Jorge Luís Borges um dos
seus principais autores.
Hoje em dia,
este tipo de escrita está muito em voga, especialmente pelo facto de se
adaptar bem à difusão nas redes sociais e aos leitores com pouco tempo.
1 – Uma micronarrativa é uma história mínima que não
necessita de mais do que umas poucas linhas para ser contada (não deve exceder as 70
palavras). Não é um resumo de um conto maior.
2 –Como todos os contos tem uma introdução, um
desenvolvimento e uma conclusão.
3 – Habitualmente não decorre muito tempo entre o início
e o final da história.
4 – Numa micronarrativa não devem existir muitas
personagens - no máximo três.
5- Devem evitar-se os cenários múltiplos. Um ou dois no
máximo.
6 – O título não deve resumir a história, mas sim fazer
parte dela, completá-la, revelar algo que lhe falta.
7 – É aconselhável selecionar bem os detalhes com que se descrevem
as personagens e os cenários. Um detalhe bem escolhido pode dizer tudo.
8 – Numa micronarrativa é muito importante selecionar o
que se conta (e também o que não se conta) e encontrar as palavras que o contem
melhor.
9 – Apesar da reduzida extensão e do mínimo de coisas que
narram, as micronarrativas contam algo muito pequeno, mas que tem um
significado muito grande. O seu poder está no contraste entre um facto que pode
parecer insignificante e o seu significado imaginativo, transcendental.
10 – É conveniente evitar as descrições abstratas, as
explicações, os juízos de valor. Contar contos é pintar com palavras, desenhar
as cenas ante os olhos do leitor para que este se possa comover ( ou não) com
elas.
11 – Pensa diferente, não te conformes, foge dos tópicos.
Ninguém escreve (micronarrativas ou qualquer outra coisa) para contar o que já
foi dito mil vezes.
Surpreende o leitor. Leva-o a viajar a outro mundo.
Exemplos:
Um crente
Ao cair da
tarde, dois desconhecidos encontram-se nos corredores escuros de uma galeria de
quadros. Com um ligeiro calafrio, um deles disse:
- Este é um
lugar sinistro. Você acredita em fantasmas?
- Eu não –
respondeu o outro. E você?
- Eu sim –
disse o primeiro e desapareceu.
George Loring Frost
O avô pediu que
as suas cinzas fossem espalhadas pela casa. Desde então dá-nos não sei o quê
varrer ou limpar. Foi a sua melhor prenda.
Pepe Bruno
Todos os dias, quando o sol se punha e a
lua já espreitava, subia os degraus até ao lugar onde ela ia, depois da
biblioteca, descalça, serena…
Sentava-me, olhava-a, escutava. Do livro que segurava nas mãos saiam seres que preencheriam os meus dias, o vazio que me queimava a alma.
Sentava-me, olhava-a, escutava. Do livro que segurava nas mãos saiam seres que preencheriam os meus dias, o vazio que me queimava a alma.
Ana Mafalda Damião
Pintura de Iman Maleki
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