sexta-feira, 3 de março de 2017

Como escrever micronarrativas



         As micronarrativas são um género relativamente novo. Surgiram na década de 60, do século XX, e tiveram em Jorge Luís Borges um dos seus principais autores.
Hoje em dia,  este tipo de escrita está muito em voga, especialmente pelo facto de se adaptar bem à difusão nas redes sociais e aos leitores com pouco tempo.

1 – Uma micronarrativa é uma história mínima que não necessita de mais do que umas poucas linhas para ser contada (não deve exceder as 70 palavras). Não é um resumo de um conto maior.
2 –Como todos os contos tem uma introdução, um desenvolvimento e uma conclusão.
3 – Habitualmente não decorre muito tempo entre o início e o final da história.
4 – Numa micronarrativa não devem existir muitas personagens - no máximo três.
5- Devem evitar-se os cenários múltiplos. Um ou dois no máximo.
6 – O título não deve resumir a história, mas sim fazer parte dela, completá-la, revelar algo que lhe falta.
7 – É aconselhável selecionar bem os detalhes com que se descrevem as personagens e os cenários. Um detalhe bem escolhido pode dizer tudo.
8 – Numa micronarrativa é muito importante selecionar o que se conta (e também o que não se conta) e encontrar as palavras que o contem melhor.
9 – Apesar da reduzida extensão e do mínimo de coisas que narram, as micronarrativas contam algo muito pequeno, mas que tem um significado muito grande. O seu poder está no contraste entre um facto que pode parecer insignificante e o seu significado imaginativo, transcendental.
10 – É conveniente evitar as descrições abstratas, as explicações, os juízos de valor. Contar contos é pintar com palavras, desenhar as cenas ante os olhos do leitor para que este se possa comover ( ou não) com elas.
11 – Pensa diferente, não te conformes, foge dos tópicos. Ninguém escreve (micronarrativas ou qualquer outra coisa) para contar o que já foi dito mil vezes.
Surpreende o leitor. Leva-o a viajar a outro mundo.

Exemplos:
Um crente
Ao cair da tarde, dois desconhecidos encontram-se nos corredores escuros de uma galeria de quadros. Com um ligeiro calafrio, um deles disse:
- Este é um lugar sinistro. Você acredita em fantasmas?
- Eu não – respondeu o outro. E você?
- Eu sim – disse o primeiro e desapareceu.
George Loring Frost


O avô pediu que as suas cinzas fossem espalhadas pela casa. Desde então dá-nos não sei o quê varrer ou limpar. Foi a sua melhor prenda.
Pepe Bruno



 Todos os dias, quando o sol se punha e a lua já espreitava, subia os degraus até ao lugar onde ela ia, depois da biblioteca, descalça, serena…
Sentava-me, olhava-a, escutava. Do livro que segurava nas mãos saiam seres que preencheriam os meus dias, o vazio que me queimava a alma.
Ana Mafalda Damião




Pintura de Iman Maleki

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